Título: Minha Faca
Autor: Paulo de Freitas Mendonça
Esta faca que tenho
Com a bainha de couro
Já domou muito índio touro
Metido a dono do mundo
Não foi o primeiro nem o segundo
Que se estrepou nesta ponta
E sentindo o corte se deu conta
Que ela não tem o fio vagabundo.
Muito bochincho confuso
Eu desmanchei com esta faca
E é lindo quando se atacam
De encontro os ferros brancos,
Até atorei pé de banco
Que voou em direção a minha teia
Já retalhei muitas veias
Largando muito índio manco.
Já cortei muita melena
De índio meio metido
E no escuro desgranido
Ao apagarem os lampeões,
Até babado de vestidos,
Palas e cinturões
Já cortei foles de gaitas
Braços e cordas de violões.
Esta faca é caborteira
Quando a noite aparece,
Mas quando o dia amanhece
Se torna dona da lida
Aí ela muda de vida,
Pois é feita p'ra trabalhar,
Em dia de castração
Só ela que quer castrar.
Já matou muitas cruzeiras
Nos macegais do Ibicui,
Já coreou muitos novilhos
Que a conta até já perdi,
Já picou fumo bueno
Para os meus palheiros
Já desmatou meus pesqueiros
Na Água Boa, no Xiniquá e Toropi.
E também, couro cru
Muito ela tem cortado,
Nos laços que tenho trançado
Sempre me deu ajuda,
Cortando que nem navalha
Com a lâmina pontuda.
Quando preciso não falha
Esta Riograndense macanuda.
Nos dias de carneação
Ela corta e não se acanha
Dizendo com arrogância
Que é a mais buena da campanha,
E nos churrascos da estância
Ela ganha uma chaira
E sai cortando assanhada
A costela, o vazio e a picanha.
Já serviu p'ra cortar lenha
Para o fogo do pesqueiro,
Até espalhou o braseiro
Para o calor ficar manso,
Já cortou goela de ganso
Que é isca p'ra pescaria,
Já cortou charque bueno
Para o carreteiro ao meio dia.
Esta buena faca que tenho
É instrumento predileto
Com ela eu me aquieto
Sempre cumpro minhas missões,
Hei de presenteá-la à meu neto
Quando partir para outros Rincões
E que ele dê ao seu neto
E que ela permaneça viva
Em braço esperto
Por muitas gerações.
Minha Faca
Marcadores: Paulo de Freitas MendonçaPostado por BTT às 18:10
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